largamente
fumando serenamente sobre tentações de vanglórias e outras vanidades
(David Reeb, Camel/Time, 1989)
Agora que a América está outra vez na mó de cima por causa de um novo ícone, falemos de ícones. Além disso, o acrílico cheira a Andy Warhol por todas as letras, cores e camelos. E porém, o grego eikona significa também «simulacro, fantasma». Calha-lhes bem. Às imagens sagradas. Sejam elas de carne ou cartão. Nas euforias, todos se esquecem que também elas caem dos seus pedestais quando menos se espera. Sem sequer serem vítimas de sismos ou de cancros tabágicos. Faz-nos bem olhar todos os dias para a areia da praia ou do maço, para o pó que se acumula na estante. Ou para as pegadas dos dinaussáurios, que eram tão grandes e tão fortes e foi um ar que lhes eu.
pas assez hardie
Serré, fourmillant, comme un million d'helminthes,
Dans nos cerveaux ribote un peuple de Démons,
Et, quand nous respirons, la Mort dans nos poumons
Descend, fleuve invisible, avec de sourdes plaintes.
Si le viol, le poison, le poignard, l'incendie,
N'ont pas encor brondé de leurs plaisants dessins
Le canevas banal de nos piteux destins,
C'est que notre âme, hélas! n'est pas assez hardie.
(Baudelaire)
últimos cigarros
«Afirmar que fumar facilita o trabalho é certamente fazer uma observação errónea. Pelo contrário, interrompe-o pura e simplesmente. Talvez o facilite a quem não é um verdadeiro fumador, mas o verdadeiro fumador, quando fuma, não faz mais nada. Um jornalista francês afirmou que, cegando, um fumador perderia o vício; é falso. Mantegazza engana-se de outro modo, quando crê poder ajudar o fumador a libertar-se do vício com alguma prescrição farmacêutica. O vício de fumar é tão complexo que a farmacopeia é impotente para o conseguir vencer. No verdadeiro fumador, fumam os olhos, o estômago, os pulmões e o cérebro; cada órgão do viciado é viciado.»
Italo Svevo, Últimos Cigarros — Sobre o Prazer e o Vício de Fumar, Lisboa, 101 Noites, 2004.
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